#17 Petiscos

Ao invés do tradicional cardápio com entrada, prato principal e sobremesa, trouxe uma rodada de petiscos pra mudar um pouquinho o tom dos nossos encontros, porque acho que uma chacoalhada de vez em quando não faz mal a ninguém:
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Do livro Manual do Herói da Sônia Hisrch, sobre o que comer no outono de acordo com a medicina tradicional chinesa:
Nas estações anteriores a energia era de expansão, agora é de recolhimento; era morna e quente, agora é fresca. Você provavelmente deixou sair tudo o que estava acumulado desde o outono anterior, agora precisa acumular de novo para enfrentar o inverno. O sabor picante já está no ar, então você começa a refeição com um pouco de sabor ácido para proteger Madeira e segue com alimentos mais cozidos, de natureza morna. (…) Atenção também para o que produz fluidos: o outono é seco, e se não houver umidade os pulmões e intestino sofrem. Defumados? Não se recomendam. Frutas? Melhor ir comendo as secas, especialmente o damasco, que é ácido, e as de natureza morna, que são raras. Maçãs ao forno, recheados com mel e tahine, fazem muito bem no outono. Observe seu corpo à medida que a temperatura externa vai caindo; se estiver sentindo frio, principalmente nas extremidades, comece a colocar uns pauzinhos de canela no seu mingau matinal e evite comidas cruas. Coma pão de centeio, que é Fogo e tem sabor amargo. Use queijos amarelos.
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Uma receita de chá que aprendi com uma professora antiga de pilates: queime açúcar no fundo de uma panela, jogue água com cuidado, deixe ferver. Coloque algumas rodelas de banana (com a casca mesmo), e um pauzinho de canela. Se tiver, pode acrescentar também um pouco de erva cidreira ou camomila, mas só a banana e canela já fazem a festa. Baixe o fogo. Espere uns 5 minutos e pode ir bebericar. Tomava muito antes das aulas, era maravilhoso. Muito bom pros dias de vento geladinho que já estão por aí.
Pra quem gosta de chá e chegou há pouco tempo por aqui: numa neswletter anterior eu falei sobre eles, o tempo lento e os rituais. Vale também retomar a leitura.
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Os legumes começaram a mudar nas barracas da feira. Apareceram as batatas doces, laranjas e mexericas, brócolis, couve-flor, radichio, e também já começaram a aparecer os primeiros pinhões. Nunca fui capaz de decorar quando era época de quê nessa relação fria que a gente tem com a comida nos supermercados, em que tudo está disponível o tempo todo, e muito menos conseguia aprender observando preços aleatórios. Poder vivenciar os ciclos da terra tendo uma pequena hortinha, me relacionar com quem planta minha comida e ler sobre agricultura familiar é o que fez toda a diferença na minha história. Acho que essa é uma das coisas que eu vim fazer aqui no interior — e é a parte na qual eu me sinto mais satisfeita com a mudança (em outras ainda sofro um bocado).

Vista da minha varanda, coberta por bertalhas. Vertical demais pra uma cidade de 80mil habitantes (e principalmente pro meu gosto), mas o pôr-do-sol por aqui também é digno de nota.
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Não me acostumei até hoje a chamar mexerica de bergamota, que é o nome da fruta aqui no sudoeste do Paraná (acho que é assim em toda a região sul). Semana passada achei "laranjas do céu" e, sem saber do que se tratava mas observando a cara das laranjas, perguntei se eram aquelas laranjas bem fraquinhas, aguadinhas, boas de chupar mas que não servem pra suco. Pra mim elas sempre se chamaram laranjas serra-d'água, e eram as primeiras a dar no sítio do meu avô, lá em Minas. Contei da minha falta de intimidade com o nome bergamota, e a moça que as vendia se lembrou da época em que morou em Curitiba: lá bergamota era mimosa, e ela também nunca se acostumou.
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Ainda sobre nomes: vi recentemente uma batata salsa plantada, ainda na terra. Eu sempre impliquei com esse nome específico, porque achava ele sem pé nem cabeça. Preferia usar batata baroa, cenoura amarela ou mandioquinha, tanto fazia. A surpresa: batata salsa tem uma folhagem muito parecida com a salsa. De todos os nomes, é o que mais faz sentido.
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Tive esses dias uma crise de cistite braba, com muita dor na região da bexiga, e aquela ardência e urgência de ir ao banheiro bem características. Eu sempre tive várias por ano, e já tive de me submeter a tratamentos meio extensos por conta disso, mas nada do que é recomendado resolvia meu problema. Eu tomava antibióticos, e em seguida, outros problemas apareciam — o mais comum eram as gastrites e a candidíase — num ciclo terrível de enfermidades que nunca terminavam. Nos últimos 3 anos, comecei a estudar formas alternativas de me tratar e andei explicando no twitter como tenho lidado com as crises. Sei que é um problema comum, majoritariamente feminino - e tenho muito mais leitoras que leitores por aqui -, por isso achei que poderia ser útil essa informação:
Preste atenção em quanta água bebe. Tome bastante durante crises de cistite, pois é importante 'lavar' bem a bexiga;
Corte alguns alimentos por pelo menos 1 semana, pois eles irritam as mucosas urinárias: pimenta, café, sucos cítricos (laranja e limão), álcool (todas as bebidas) e água com gás;
Mande formular umas cápsulas de extrato seco de Cranberry, 400mg, na farmácia de manipulação/homeopática. A frutinha tem sido estudada a sério como um fitoterápico por sua propriedade de impedir que as bactérias se fixem na mucosa da bexiga. Você pode ler sobre esse tipo de pesquisa aqui (fonte jornalística) e aqui (fonte científica). Alternativamente, você também pode comprar caixas de suco de cranberry, que também é eficaz, mas nunca me animo muito pois além de caro o açúcar é o principalmente componente dessas caixinhas. Nas farmácias comuns você também encontra sachês de Cranberry para serem diluídos em água, mas também observe no rótulo que eles contém dextrose (açúcar) pra ser mais palatável. Todos são eficazes, no entanto.
Aproveite que você precisa aumentar a quantidade de água e prepare uns chás medicinais pra você. O de raiz de salsa é bastante conhecido, mas sei que pode ser difícil arrumar uma na 'cidade grande'. A Beta Miranda, no twitter, acabou me recomendando também casca de romã — que é reconhecido também pela propriedade antisséptica, e eu já sabia que era bom pra infecções e dores de garganta. Só não é lá muito gostoso.
Procure aumentar a quantidade de alimentos fermentados que você come, porque eles também ajudam no aumento da sua imunidade. O mais fácil de você incluir é o iogurte, mas sempre é possível também alguma bebida fermentada como o refrigerante caseiro de gengibre, ou chucrute, pepinos caseiros em conserva, missô, e vinagres caseiros (os industrializados costumam ser pasteurizados, não servem).
Se você estiver com muita dor abdominal, use uma bolsa de água quente.
Se funciona? Pra mim, funciona. Tenho me tratado assim nos últimos 3 anos, e em nenhum deles precisei tomar antibiótico mais. É preciso ser bem metódica, e o alívio demora um pouco mais a aparecer. Mas vem, de verdade. Eu estou bem melhor agora.
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Adivinha de quê tem gosto o chá de raiz de salsa? Isso mesmo, de batata salsa.
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Dois textos aleatórios que coloquei no meu bookmark, com intenção de dividir qualquer hora por aqui:
Comida invisível, da jornalista Camilla Cristini, publicado na revista Vida Simples, fala sobre como comida é muito mais do que nutrição: ela nos permite entender da nossa relação com a terra e com as pessoas a nossa volta.
E um inusitado projeto usando um liquidificador, em que o autor criou um grafitti de musgo que é maravilhosamente genial. Vontade de tentar fazer um.
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Por hoje é só, espero que tenha sido boa a companhia. Se quiser me perguntar ou comentar qualquer coisa, é só responder esse email. Mês que vem tem mais.
Um abraço,
Carla Soares