Onde eu possa viver a utopia
Se eu não puder viver a utopia nas minhas próprias criações, onde é que vou achar espaço pra isso?
Essa cartinha de hoje é um pouco diferente. Resolvi conversar com você sobre viver os sonhos dentro das coisas que a gente cria e no que eu faço por aqui. Isso tudo porque depois da mudança pra vir viver um grande verão no sertão, meus planos acabaram naturalmente ganhando ares mais solares, com mais espaço pra sonhar.
No ano passado, eu tinha trabalhado no envio de cartas físicas artesanais, uma proposta que eu tinha o maior carinho porque além de ser fora das telas também trazia de um jeito muito concreto uma outra temporalidade, que sempre aparece no que escrevo.
No início desse ano finalizei esse projeto de cartas, e passei a enviar newsletters inéditas exclusivas pros apoiadores. Mas imaginava que essa ideia fosse algo transitório porque sabia que estava pra viver essa grande mudança, tudo era provisório demais naquele momento.
Nesse meio tempo experimentando esse formato, tenho me sentido um pouco incomodada com a lógica de ter textos pagos/exclusivos e outros não. E eu sinto isso como alguém que escreve, mas também como leitora de muitas newsletters que têm adotado essa prática - mesmo sendo apoiadora de algumas.
Mas olha só: não tem nada de errado em cobrar pelo que se faz não. E a gente infelizmente não tem uma cultura de valorizar artistas o suficiente. Acredito inclusive que essa cobrança ajuda a aumentar a percepção de que se trata de algo que tem valor, o que é muito bem vindo. Mas não gosto de alimentar o sentimento de que tem um trabalho gratuito e um trabalho que merece ser pago. O que eu quero é poder escrever como vinha escrevendo, para todos, e estar presente nas redes do meu jeito, sem precisar ter algo especial que ainda precise ser feito, e que pareça que aí sim valha dinheiro.
Talvez seja um bocado de idealismo da minha parte querer fugir dessa lógica, mas se eu não puder viver a utopia nas minhas próprias criações, onde é que vou achar espaço pra isso?
Espaço seguro
Desde que comecei o OutraCozinha, mais do que uma periodicidade engessada - como publicar todos os meses, toda semana, ou estar nas redes todos os dias -, eu sempre acreditei em manter esse espaço como prioridade, mas só publicar quando tenho algo a dizer.
Tem certas coisas que tenho sentido muita falta de ver nessa internet, onde todo mundo sabe tudo e tem todas as dicas (veja como você sempre fez isso errado!). Quero escrever e ler uma perspectiva um pouco mais pessoal pra falar sobre processos, coisas que levam tempo pra tomar forma, e incertezas.
Tenho tido vontade de fazer funcionar esse espaço aqui dos comentários da newsletter no Substack como um espaço seguro, já que diferente das redes sociais somos um grupo pequeno e com muitas coisas em comum.
Abrirei esses espaços seguros de fórum inicialmente para os apoiadores por ser um grupo menor, mas sem periodicidade fixa, pra gente poder conversar sobre processos e se aproximar mais.
Cozinhando outras ideias
Vou começar uma série de encontros pra falar sobre temas que envolvem produção criativa, que pode estar em qualquer cantinho da sua vida. Pode ser algo da sua profissão, ou uma forma criativa de ver as coisas, de se manter bem, de abrir espaço na rotina. É pra quem se interessa em fugir do mais do mesmo por aí e quer uma mãozinha pra cozinhar suas próprias ideias.
Vou usar pra isso não só a minha experiência aqui no OutraCozinha nesses 6 anos, mas também pitadas da minha formação. Antes de estar por aqui escrevendo, eu me graduei e fiz mestrado em Comunicação Social, e fui professora universitária por quase 7 anos. E embora eu tenha deixado de lado a docência por muitas razões, esse conhecimento sempre foi muito útil pra que eu pudesse pensar no que eu tava fazendo de um jeito muito particular.
Os encontros que estou propondo tem um valor acessível para quem quiser participar, mas serão gratuitos para os apoiadores. Basta se inscrever e marcar que é apoiador.
Os dois primeiros encontros já tem data e tema:
Público não é alvo é uma brincadeira com aquela expressão que tanto se vê por aí, mas que é de torcer o nariz. Usando as teorias da comunicação a gente vai falar dos problemas que essa metáfora bélica implica. Em seguida, vamos investigar como se pode pensar nas pessoas em projetos criativos que partem da premissa de conversa. Dá pra fazer muito diferente.
Quando: 3 de setembro (sábado) - de 14 as 17h
Valor: $35 | gratuito para apoiadores
Escrita compassiva nas redes sociais é uma reedição de uma oficina presencial que dei em SP em 2019. É pra pensar um tempo e um formato que geralmente não é muito premiado nas redes, mas que faz sentido quando você ou seu trabalho criativo também não segue nem quer seguir o esperado pelo algoritmo. A escrita compassiva procura evitar julgamentos, dizer o que é certo ou errado, o que deveria ou não deveria. Em vez disso, usamos a escrita com atenção plena para revelarmos de onde estamos vindo, o que sentimos, precisamos ou acreditamos.
Quando: 8 de outubro (sábado) - de 14 as 17h
Valor: $35 | gratuito para apoiadores
Para o futuro
Enquanto isso, estou reeditando as oficinas sobre preparos culinários que ofereci ano passado (Produção de refrigerantes caseiros, Conservação de alimentos e Germinação de grãos). Depois da experiência, achei que poderia explorar mais alguns assuntos nessas oficinas, mas precisaria de um tempo maior pra serem apresentadas. Achei que valia a pena fazer algumas mudanças e estou trabalhando nelas.
Apoiadores a partir de $30/mensais vão poder escolher uma das oficinas pra participarem sem custo se assim quiserem, como um agradecimento por estarem aqui o ano todo <3
Aproveitando o assunto das oficinas, você viu o post que publiquei sobre como fazer um fermento selvagem de gengibre pra fazer refrigerante a partir dele?
Orgânicos
Recebi da Coopernatural uma caixinha com alguns produtos orgânicos e um simpático cupom de desconto pra oferecer para quem me acompanha por aí.
Por serem cooperativa, o mix de produtos que eles têm no site é bem bacana. Tem grãos, do mais básico arroz-e-feijão até alguns bem diferentes, como feijão moyashi, que é bem difícil de encontrar orgânico, e é ótimo pra fazer germinado. Tem geleias, com direito a algumas pouco convencionais como de lavanda, hortelã ou fisális, mas inclui também cervejas, espumantes e vinhos, que tô muito curiosa pra provar. É daqueles trabalhos que deixam a gente feliz que existem: ver os pequenos se juntarem pra serem mais fortes, lutar contra as desigualdades do campo, e produzir variedade e saúde pra todos.
Use o cupom OUTRACOZINHA se for comprar no site da Coopernatural ou na Vinícola Hex Von Wein. Ele te dá 13% de desconto até o fim de 2022 (coincidência essa porcentagem? Eu acho que não hein)
Agora é a sua vez
Vamo aproveitar que esse cantinho é mais reservado que as redes sociais e conversar um pouco sobre o que você acha dessas ideias.
Como você se sente sobre apoiar projetos criativos e a relação com as recompensas oferecidas? O que você têm sentido sobre as assinaturas pagas com conteúdo exclusivo que existem por aí?
E não deixe de viver toda utopia que for possível. Apoie este ou outros projetos criativos que você goste. É assim que a gente vai ocupando os espaços com os nossos sonhos.
Um enorme abraço,
Carla Soares • OutraCozinha
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Eu amo apoiar o que você produz, é um trabalho que me movimenta muito, sou uma apoiadora muito feliz e satisfeita. As reflexões que já tirei das suas newsletters mexeram muito comigo. Eu já me inscrevi correndo nos dois encontros. E acho que essa pergunta que você faz vai martelar muito tempo na minha cabeça ainda. Há quase 1 ano decidi que quero sim fazer uma newsletter e escrever sobre as maluquices que penso, mas simplesmente não consigo destravar, ainda tenho muito medo do que vão achar. E essa pergunta me confronta diretamente nisso e eu complemento: se eu não puder viver a utopia nas minhas criações, qual é a saída? Sufocá-la?
Você é uma inspiração, Carla! Quero fazer alguma oficina sua, vamos ver se consigo! <3