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Lorena's avatar

Eu já tinha gostado muito desse texto no ano passado, quando o tinha lido pela primeira vez, mas agora acho que fez ainda mais sentido pra mim. A ideia de repetição está mais presente ainda agora que eu trabalho todos os dias, o dia todo, com as mesmas turmas, lidando com as mesmas pessoas e os mesmos problemas. Dia após dia. Tem semanas em que eu me sinto o Jonas da série, tentando achar o ponto do início do novelo, pra tentar desenrolar algum problema de algum aluno (ou vários, ou todos; geralmente todos). Tem semanas que me sinto o Jonas na barriga da baleia, só rezando pra deus me dar uma luz de como fazer o trabalho que eu sei que preciso fazer. Mas toda semana, todos os dias, apesar de sentir que estou repetindo a semana anterior, alguma coisa nova acontece (ainda que apenas dentro da minha cabeça) que ilumina algo que precisa ser visto e eu consigo seguir um pouquinho mais adiante.

Se não fosse a repetição e a rotina, eu com certeza não conseguiria perceber o que precisa ser feito. A falta de repetição me desorganiza e apesar dos problemas se repetirem TB, é nessa repetição que eu vou experimentando soluções e ficando um pouco melhor a cada rodada.

Brigada pela repetição desse texto, também. Ele me ajudou a respirar fundo aqui e me preparar psicologicamente pra mais uma semana em que tudo vai ser mais ou menos igual, mas também um tanto diferente.

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Patricia Guedes's avatar

Adorei muito esse texto. Tenho pensado muito em como a vida e as coisas da vida são crônicas, no sentido de que apesar de se repetirem, o tempo é o agente modificador daquela ação, mesmo que a gente não perceba num primeiro momento. Faço exercício 5x por semana há 8 anos e todos os dias quando acordo pra ir tenho essa sensação terrível de que é inglório, que não dá resultado, que não vale a pena. Só me dou conta de que a repetição daquela tarefa fez algo por mim na hora de uma caminhada mais longa em que eu fico inteira ou na hora de carregar alguma coisa mais pesada sem grandes traumas.

Nos últimos dias também ouvi a uma série documental em podcast chamada Projeto Querino, que reconta a história do Brasil a partir da perspectiva das pessoas negras. Desde que ouvi, venho recomendando às pessoas como se fosse o livro Universo em Desencanto, abriu muito a minha cabeça, observar os mesmos fatos a partir de um ponto de vista antagônico ao original. Uma coisa que me chamou bastante a atenção é que é possível ver que a história se repete muitas vezes (inclusive essa que vivemos agora e achamos que é tudo inédito), mas, novamente, esse efeito invisível (mas perceptível) do tempo faz toda a diferença. Também penso que as ações repetitivas dos povos oprimidos de educar seus iguais, conscientizá-los e manter vivas suas histórias também acabaram sendo pontos importantes de resistência ao conservadorismo e à violência, num espaço de tempo que as próprias pessoas que repetiam essas atividades não conseguiam enxergar ainda. Então, mesmo que o efeito das repetições seja invisível, é preciso que a gente confie que o tempo não deixa nada no mesmo lugar nunca e é daí que saem as transformações.

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