Eu já tinha gostado muito desse texto no ano passado, quando o tinha lido pela primeira vez, mas agora acho que fez ainda mais sentido pra mim. A ideia de repetição está mais presente ainda agora que eu trabalho todos os dias, o dia todo, com as mesmas turmas, lidando com as mesmas pessoas e os mesmos problemas. Dia após dia. Tem semanas em que eu me sinto o Jonas da série, tentando achar o ponto do início do novelo, pra tentar desenrolar algum problema de algum aluno (ou vários, ou todos; geralmente todos). Tem semanas que me sinto o Jonas na barriga da baleia, só rezando pra deus me dar uma luz de como fazer o trabalho que eu sei que preciso fazer. Mas toda semana, todos os dias, apesar de sentir que estou repetindo a semana anterior, alguma coisa nova acontece (ainda que apenas dentro da minha cabeça) que ilumina algo que precisa ser visto e eu consigo seguir um pouquinho mais adiante.
Se não fosse a repetição e a rotina, eu com certeza não conseguiria perceber o que precisa ser feito. A falta de repetição me desorganiza e apesar dos problemas se repetirem TB, é nessa repetição que eu vou experimentando soluções e ficando um pouco melhor a cada rodada.
Brigada pela repetição desse texto, também. Ele me ajudou a respirar fundo aqui e me preparar psicologicamente pra mais uma semana em que tudo vai ser mais ou menos igual, mas também um tanto diferente.
Adorei muito esse texto. Tenho pensado muito em como a vida e as coisas da vida são crônicas, no sentido de que apesar de se repetirem, o tempo é o agente modificador daquela ação, mesmo que a gente não perceba num primeiro momento. Faço exercício 5x por semana há 8 anos e todos os dias quando acordo pra ir tenho essa sensação terrível de que é inglório, que não dá resultado, que não vale a pena. Só me dou conta de que a repetição daquela tarefa fez algo por mim na hora de uma caminhada mais longa em que eu fico inteira ou na hora de carregar alguma coisa mais pesada sem grandes traumas.
Nos últimos dias também ouvi a uma série documental em podcast chamada Projeto Querino, que reconta a história do Brasil a partir da perspectiva das pessoas negras. Desde que ouvi, venho recomendando às pessoas como se fosse o livro Universo em Desencanto, abriu muito a minha cabeça, observar os mesmos fatos a partir de um ponto de vista antagônico ao original. Uma coisa que me chamou bastante a atenção é que é possível ver que a história se repete muitas vezes (inclusive essa que vivemos agora e achamos que é tudo inédito), mas, novamente, esse efeito invisível (mas perceptível) do tempo faz toda a diferença. Também penso que as ações repetitivas dos povos oprimidos de educar seus iguais, conscientizá-los e manter vivas suas histórias também acabaram sendo pontos importantes de resistência ao conservadorismo e à violência, num espaço de tempo que as próprias pessoas que repetiam essas atividades não conseguiam enxergar ainda. Então, mesmo que o efeito das repetições seja invisível, é preciso que a gente confie que o tempo não deixa nada no mesmo lugar nunca e é daí que saem as transformações.
É aquela velha história de que um belo dia tudo tinha mudado mas também estava tudo igual. As grandes transformações são feitas de um monte desses pedacinhos invisíveis - essa última frase do seu comentário é maravilhosa.
(e eu amei a recomendação disfarçada aí do novo Universo em Desencanto. Eu já tinha colocado no radar esse podcast, mas é uma mídia que eu custo a embarcar, não me dou bem com ouvir e fazer algo ao mesmo tempo que é mais ou menos como esse mídia costuma ser pensada. Mas com recomendação sua vou me esforçar mais pra achar um espaço pra escutar)
O caminho só é extraordinário quando visto de fora, pois para quem caminha é apenas a rotina que precisa seguir todos os dias; e a recusa do chamado não é um desvio, ela também faz parte do caminho. Texto incrível. Ainda processando.
Dark foi uma das cinco séries que assisti até hoje, na vida. A partir de meados da segunda temporada comecei a ficar frustrada, pq detesto esses cenários cinzentos de ficção científica de um futuro distópico. Seu texto me remeteu ao filme Donie Darko, que é bastante semelhante a Dark (inclusive o título). Os mesmos tons cinzentos e protagonista atormentado. Eu bem queria ter uma baleia pra me engolir e me colocar na cara do gol. Esse negócio de repetição e de descobrir o que se quer, e de rumar em direção ao desejo me tira a paciência. Eu só quero dormir, não sei o que eu quero. Recentemente uma amiga questionou "e pq tem que saber?". Pois é, eu só sei do básico, é o que dou conta. Comer, dormir, manter a casa organizada... ler seus textos é uma das partes mais prazerosas. Ainda bem que eu aprendi a gostar de ler bem jovem, senão estaria muito mais encrencada.
Me identifico com isso de não sei o que quero mais do que você imagina rs. Tem um filósofo italiano que gosto muito, o Giorgio Agambem, que fala que a ideia de que podemos (e devemos) fazer qualquer coisa é só um reflexo da flexibilidade que o mercado exige de cada um. Mas somente a percepção do que não podemos ser garante a verdade do que somos. Saber que não podemos ou que podemos não fazer cria consistência no nosso agir. Acho essa ideia um convite bem louco de anti-heroísmo, que gosto demais.
Sou uma apaixonada das repetições e do cotidiano, das pequenices e do arroz com feijão. Gostei muito de ter deixado esse texto pra ler hoje, na manhã de segunda feira, o período mais crítico da semana para engajar em algo - fico horas pensando em tudo que tenho que fazer e quase não consigo começar nada. Bem... Pensar nelas já é começar. Tirei o feijão do congelador também.
Eu passei anos dizendo pra mim mesma que não gostava de rotina, porque era uma pessoa criativa. Nada me fez ser mais criativa do que a estabilidade dessas pequeninices repetitivas. Agora lendo seu comentário fiquei aqui pensando nessa paralização que a gente sente quando vê uma quantidade enorme de coisas pra fazer, e de como a repetição nos dá um lugar seguro, que nem quando a gente assiste repetidas vezes qualquer coisa.
Adorei! Li ouvindo "My name is Jonas" do Weezer ( harmonizar textos e músicas, seria uma nova mania?).Fugitiva das rotinas que sempre fui com a desculpa da criatividade, entendi nos últimos tempos que ter uma rotina de criação, escrita e publicação tem seu valor. E na cozinha também! A agilidade, as manha, só chegam com a repetição.
Eu já tinha gostado muito desse texto no ano passado, quando o tinha lido pela primeira vez, mas agora acho que fez ainda mais sentido pra mim. A ideia de repetição está mais presente ainda agora que eu trabalho todos os dias, o dia todo, com as mesmas turmas, lidando com as mesmas pessoas e os mesmos problemas. Dia após dia. Tem semanas em que eu me sinto o Jonas da série, tentando achar o ponto do início do novelo, pra tentar desenrolar algum problema de algum aluno (ou vários, ou todos; geralmente todos). Tem semanas que me sinto o Jonas na barriga da baleia, só rezando pra deus me dar uma luz de como fazer o trabalho que eu sei que preciso fazer. Mas toda semana, todos os dias, apesar de sentir que estou repetindo a semana anterior, alguma coisa nova acontece (ainda que apenas dentro da minha cabeça) que ilumina algo que precisa ser visto e eu consigo seguir um pouquinho mais adiante.
Se não fosse a repetição e a rotina, eu com certeza não conseguiria perceber o que precisa ser feito. A falta de repetição me desorganiza e apesar dos problemas se repetirem TB, é nessa repetição que eu vou experimentando soluções e ficando um pouco melhor a cada rodada.
Brigada pela repetição desse texto, também. Ele me ajudou a respirar fundo aqui e me preparar psicologicamente pra mais uma semana em que tudo vai ser mais ou menos igual, mas também um tanto diferente.
Adorei muito esse texto. Tenho pensado muito em como a vida e as coisas da vida são crônicas, no sentido de que apesar de se repetirem, o tempo é o agente modificador daquela ação, mesmo que a gente não perceba num primeiro momento. Faço exercício 5x por semana há 8 anos e todos os dias quando acordo pra ir tenho essa sensação terrível de que é inglório, que não dá resultado, que não vale a pena. Só me dou conta de que a repetição daquela tarefa fez algo por mim na hora de uma caminhada mais longa em que eu fico inteira ou na hora de carregar alguma coisa mais pesada sem grandes traumas.
Nos últimos dias também ouvi a uma série documental em podcast chamada Projeto Querino, que reconta a história do Brasil a partir da perspectiva das pessoas negras. Desde que ouvi, venho recomendando às pessoas como se fosse o livro Universo em Desencanto, abriu muito a minha cabeça, observar os mesmos fatos a partir de um ponto de vista antagônico ao original. Uma coisa que me chamou bastante a atenção é que é possível ver que a história se repete muitas vezes (inclusive essa que vivemos agora e achamos que é tudo inédito), mas, novamente, esse efeito invisível (mas perceptível) do tempo faz toda a diferença. Também penso que as ações repetitivas dos povos oprimidos de educar seus iguais, conscientizá-los e manter vivas suas histórias também acabaram sendo pontos importantes de resistência ao conservadorismo e à violência, num espaço de tempo que as próprias pessoas que repetiam essas atividades não conseguiam enxergar ainda. Então, mesmo que o efeito das repetições seja invisível, é preciso que a gente confie que o tempo não deixa nada no mesmo lugar nunca e é daí que saem as transformações.
É aquela velha história de que um belo dia tudo tinha mudado mas também estava tudo igual. As grandes transformações são feitas de um monte desses pedacinhos invisíveis - essa última frase do seu comentário é maravilhosa.
(e eu amei a recomendação disfarçada aí do novo Universo em Desencanto. Eu já tinha colocado no radar esse podcast, mas é uma mídia que eu custo a embarcar, não me dou bem com ouvir e fazer algo ao mesmo tempo que é mais ou menos como esse mídia costuma ser pensada. Mas com recomendação sua vou me esforçar mais pra achar um espaço pra escutar)
O caminho só é extraordinário quando visto de fora, pois para quem caminha é apenas a rotina que precisa seguir todos os dias; e a recusa do chamado não é um desvio, ela também faz parte do caminho. Texto incrível. Ainda processando.
Dark foi uma das cinco séries que assisti até hoje, na vida. A partir de meados da segunda temporada comecei a ficar frustrada, pq detesto esses cenários cinzentos de ficção científica de um futuro distópico. Seu texto me remeteu ao filme Donie Darko, que é bastante semelhante a Dark (inclusive o título). Os mesmos tons cinzentos e protagonista atormentado. Eu bem queria ter uma baleia pra me engolir e me colocar na cara do gol. Esse negócio de repetição e de descobrir o que se quer, e de rumar em direção ao desejo me tira a paciência. Eu só quero dormir, não sei o que eu quero. Recentemente uma amiga questionou "e pq tem que saber?". Pois é, eu só sei do básico, é o que dou conta. Comer, dormir, manter a casa organizada... ler seus textos é uma das partes mais prazerosas. Ainda bem que eu aprendi a gostar de ler bem jovem, senão estaria muito mais encrencada.
Me identifico com isso de não sei o que quero mais do que você imagina rs. Tem um filósofo italiano que gosto muito, o Giorgio Agambem, que fala que a ideia de que podemos (e devemos) fazer qualquer coisa é só um reflexo da flexibilidade que o mercado exige de cada um. Mas somente a percepção do que não podemos ser garante a verdade do que somos. Saber que não podemos ou que podemos não fazer cria consistência no nosso agir. Acho essa ideia um convite bem louco de anti-heroísmo, que gosto demais.
Sou uma apaixonada das repetições e do cotidiano, das pequenices e do arroz com feijão. Gostei muito de ter deixado esse texto pra ler hoje, na manhã de segunda feira, o período mais crítico da semana para engajar em algo - fico horas pensando em tudo que tenho que fazer e quase não consigo começar nada. Bem... Pensar nelas já é começar. Tirei o feijão do congelador também.
Boa semana pra nós, carlinha.
Eu passei anos dizendo pra mim mesma que não gostava de rotina, porque era uma pessoa criativa. Nada me fez ser mais criativa do que a estabilidade dessas pequeninices repetitivas. Agora lendo seu comentário fiquei aqui pensando nessa paralização que a gente sente quando vê uma quantidade enorme de coisas pra fazer, e de como a repetição nos dá um lugar seguro, que nem quando a gente assiste repetidas vezes qualquer coisa.
Boa semana 😘
Adorei a metáfora. Que texto bom!!
Adorei! Li ouvindo "My name is Jonas" do Weezer ( harmonizar textos e músicas, seria uma nova mania?).Fugitiva das rotinas que sempre fui com a desculpa da criatividade, entendi nos últimos tempos que ter uma rotina de criação, escrita e publicação tem seu valor. E na cozinha também! A agilidade, as manha, só chegam com a repetição.